As duas notas musicais da trilha-sonora de Tubarão, composta por John Williams, causam um frio na espinha difícil de explicar até hoje, 50 anos após o lançamento do filme dirigido por Steven Spilberg. O filme, no entanto, não inaugurou uma nova era no cinema ao explorar o medo por não mostrar demais e deixar a imaginação do público voar, tal como já ensinara Alfred Hitchcock, em Psicose, por exemplo. Tampouco o filme inaugurou os longas-metragens com criaturas assustadoras. Godzilla e King Kong já estavam por aí. O que diferenciou Tubarão, transformando-o em um marco do cinema e inspiração para quase todos os filmes com criaturas assustadoras que surgiram nos anos seguintes, foi juntar tudo isso em uma estrutura simples, porém eficiente.
Tubarão não é (só) um filme sobre tubarão. Também é um suspense em que seu personagem principal poderia ser substituído por qualquer outro animal. Como de fato aconteceu, já vimos baleias, crocodilos, piranhas. Dividido em blocos, o filme situa a ação em um local remoto, causa suspense ao mostrar a primeira vítima, apresenta um herói improvável, coloca uma dificuldade a partir de uma autoridade que não entende do assunto, recruta especialistas que entendem do bichão e partem numa expedição para destruir o animal, culminando com a morte da criatura.
A partir desses pontos, é possível perceber influências de Tubarão em histórias tão díspares quanto Alien, Parque dos Dinossauros, Anaconda e até mesmo histórias como o filme Contágio, sobre uma epidemia semelhante ao coronavírus, mas muito mais mortal. Tubarão, no entanto, se insere no panteão dos grandes filmes pelo ineditismo dessa estrutura, aliado à direção magistral e trilha-sonora espetacular que acompanharam a obra.
Não é exagero dizer que Tubarão mudou a face do cinema moderno. Antes dele, os arrasa-quarteirões só eram lançados no inverno. O verão era uma estação em que os executivos entendiam ser de baixa procura. Ao aliar publicidade, boca-a-boca e as férias escolares, Hollywood lucrou como nunca, criando uma nova temporada de lançamentos que abocanhava (com o perdão do trocadilho) o público jovem, estabelecendo um novo modelo de lançamento.
O sucesso de Tubarão não foi planejado. Ele aconteceu quase por acaso. Quando as filmagens começaram, o roteiro ainda nem estava pronto e o robô que representava o animal apresentava tantos problemas que Spielberg o escondeu mais do que o mostrou. Eis o pulo do gato. Se tivesse mostrado demais, talvez o suspense não teria sido tão grande.