O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), divulgou detalhes de como funcionará a nova guarda. Chamada de Força Municipal Armada, esse é principal projeto do chefe do Palácio da Cidade para seu quarto mandato à frente do Executivo carioca, e deve ser usado por ele para se projetar na disputa ao governo do Estado em 2026.
A nova força de segurança da cidade, conforme Paes anunciou, vai funcionar no modelo conhecido como Compstat, que foi criado pela polícia municipal de Nova York no início da década de 1990. O sistema — cujo nome é uma derivação em inglês de “compare stats” (comparação de estatísticas, numa tradução livre) — se baseia na análise de dados para traçar as políticas de segurança com base em evidência, estatística e inteligência.
No Rio, segundo o prefeito, sob esse modelo, serão feitas reuniões periódicas com a cúpula da Força Municipal Armada e demais gestores municipais para avaliar a atuação do efetivo e coordenar os esforços no combate a violência. A divisão armada da guarda fará o policiamento ostensivo e preventivo, que será definido a partir da característica de cada área da cidade, sobretudo com foco em evitar roubos e furtos em locais públicos.
Em conversa com jornalistas nesta manhã, Paes reforçou que a nova força não vai atuar no combate ao crime organizado nem em operações de retomada de territórios dominados por facções ou milícias, muito menos fará investigações criminais. Essas funções continuarão a cargo das polícias Militar e Civil, sob comando do governo do Estado.
Em Nova York, o modelo Compstat reduziu os indicadores de criminalidade da cidade americana, o que fez com que fosse replicado em diversos outros municípios do mundo. O prefeito afirmou que, em meados de junho, visitará mais uma vez a polícia municipal nova iorquina enquanto ainda estabelece o funcionamento da guarda municipal carioca.
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“Provavelmente no próximo dia 16 ou 17, eu vou visitar o Compstat de Nova York”, disse Paes.
O vice-prefeito da cidade, Eduardo Cavaliere (PSD), também afirmou: “A gente visitou a polícia de Nova York, e Paes deve fazer isso na sua próxima ida também, para que a gente possa trazer para cá essa metodologia bem sucedida. Isso já é aplicado em várias cidades do mundo, e a gente está aplicando aqui.”
Apesar de ser um exemplo bem sucedido na percepção de especialistas, a polícia municipal de Nova York também foi alvo de críticas por excessos cometidos, principalmente na gestão do ex-prefeito Michael Bloomberg, que governou a cidade de 2002 a 2014. O empresário americano foi duramente criticado pela política “stop and frisk” (“parar e revistar”), que previa a revista aleatória de pessoas sem nenhum motivo aparente. Na prática, essa medida mirava sobretudo jovens negros e latinos.
Questionado se pretende adotar a política no Rio, Paes desconversou. Ele e Bloomberg têm certo alinhamento; o carioca sucedeu o americano na presidência na rede de cidades C40.
“Aos poucos vamos ter umas apresentações mais técnicas [sobre a atuação da guarda municipal]. Nós estamos trabalhando em todos esses modelos. Essa consultoria da Joana [Monteiro, diretora do instituto Leme e ex-presidente do ISP] é uma coisa externa que ajuda a ter essa visão mais técnica. Tem aqui gente que tem experiência de ‘boots on the ground’, pé no chão ali, que conhece a realidade da cidade. Então, a gente está definindo tudo isso”, disse Paes.
06/06/2025 14:38:19
Oficialmente, Paes nega que vá deixar a prefeitura para concorrer ao Palácio Guanabara no ano que vem, mas esse cenário é dado como certo nos bastidores e é admitido por aliados do prefeito em conversas reservadas. Essa possibilidade, inclusive, tem sido alvo de brincadeiras de Paes durante as agendas oficiais.
“Eu fiz o discurso aqui, me emocionei. Vão até achar que sou candidato a governador”, disse o prefeito nesta manhã, após criticar a politização da segurança pública. “A minha crítica é sempre à política, ao comando. Nunca aos servidores”.
O prefeito também afirmou: “Já fui candidato a governador duas vezes, e em ambas as oportunidades não fiquei nem passando a mão na cabeça de bandido, nem dando tiro na cabecinha. O Estado não deve pregar isso. O Estado deve até matar um delinquente, se esse delinquente ameaçar o agente público. Mas não deve ser o objetivo do Estado sair pela rua matando os outros.”