Vogue esteve na abertura de “Worth, inventor da alta costura”, exposição que celebra o estilo exuberante e o impacto deste estilista no sistema da moda Na história da moda existe um antes e depois de Charles Frederick Worth (1825 – 1895), que não só é considerado o primeiro estilista no sentido contemporâneo do termo, como o responsável por estabelecer as bases de como a indústria funciona até hoje. Worth — o homem e a marca que perdurou por três gerações, do meio do século 19 até o seu fechamento em 1956 — dominou a moda de uma tal maneira que sua influência no vestir de sua época talvez só chegue perto à do rei Luís XIV. “Worth é o poder absoluto no reino da moda; aceitamos e imitamos tudo o que vem dele”, lia-se num artigo de 1868 no jornal Le Monde Illustré.
É surpreendente que somente agora seu legado seja esmiuçado numa retrospectiva de grande envergadura. Parada obrigatória para quem ama moda, Worth, inventor da alta costura acontece no Petit Palais, em Paris, até dia 7 de setembro. “A mostra é fruto de anos de trabalho não só de pesquisa, como de conservação e restauração. Aliás, pela sua fragilidade, parte dos 400 vestidos e acessórios expostos aqui nunca mais poderão ser exibidos”, anunciou na abertura da exposição Annick Lemoine, diretora do museu.
Quando abre sua marca em 1858, inicialmente em sociedade com Otto Bobergh, o estilo dramático e teatral de Worth, marcado por tecidos opulentes e uma sensibilidade historicista, caiu logo no gosto das mulheres das cortes europeias, entre elas a imperatriz Eugênia. O contexto de prosperidade econômica da França do Segundo Império ajudou a deslanchar sua carreira, assim como a ampliação do guarda-roupa feminino, que se codificou ainda mais a partir do meio do século 19 com o surgimento da sociedade de consumo.
Em relação ao r da arte visual para a música, ele é enfático: “Nada [foi desafiador]. Eu realmente amei cada parte. Existe um limite muito alto na prática que eu exerço enquanto pintor. Tô falando de 16 horas em pé pintando. Do outro lado, tem uma sala cheia de instrumentos, musicistas absurdos, ar-condicionado e pausa pra beber chá e aquecer? No complains! Haha.”
Uma manta noturna mostra a etiqueta que reproduz, tal qual um artista, a assinatura “manuscrita” do estilista
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Cada ocasião pedia um figurino diferente e na loja de Worth, no número 7 da prestigiosa rue de la Paix, todas as ocasiões eram contempladas: de tea gowns para o chá das 17h e capas para ir à ópera até preciosíssimos vestidos de casamento e de bailes dos mais variados tipos, uma de suas especialidades. O inglês radicado na França também ganhou fama pelas suas fantasias luxuosas, como a de rainha Zenóbia usada pela duquesa de Devonshire num baile de 1897, um dos destaques da exposição no Petit Palais.
Não importava a categoria social — realeza, aristocrata, socialite, nova rica, atriz — todas as mulheres da elite queriam ser vistas numa criação de Worth. Pela primeira vez, as clientes passaram a ir até o couturier, e não o contrário. Aliás, era comum pintores, entre eles Carolus-Duran e Alfred Stevens, acompanharem suas clientes ao ateliê da rue de la Paix para ajudar a escolher os modelos que eternizariam com riqueza de detalhes em retratos grandiosos. Uma das maiores clientes de Worth, a duquesa de Castiglione Colonna, conhecida também pelo pseudônimo artístico Marcello, deixou avisado aos familiares seu último desejo: ser enterrada vestida por Worth.
Worth gostava de criar roupas contemporâneas cheias de referências à moda de épocas do Antigo Regime, como o vestido de estilo Luís XVI usado pela condessa Edmond Récopé no retrato de Edouard Debat-Ponsan
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Aos poucos, a personalidade autoritária do fundador mudou a imagem e o status do couturier, que deixou de ser um mero fornecedor à mercê dos gostos e desejos de uma rica clientela para virar um artista-autor que impõe sua visão. Tanto é que, nos anos 1880, a etiqueta de suas roupas passaram a levar sua assinatura “manuscrita”, como dá para ver numa das vitrines mais emocionantes da exposição, que mostra o interior do corselete de um vestido de casamento com seu autógrafo tecido numa fita. Paira a dúvida no ar se as obras de arte assinadas pelo artista eram as roupas ou as mulheres dentro delas.
O tino comercial de Worth, enriquecido por uma experiência trabalhando numa loja de departamentos assim que chegou em Paris, em 1848, também deixou um legado sentido até hoje: sua maison foi precursora ao organizar desfiles com modelos de carne e osso e ao implementar pela primeira vez o conceito de coleção com um número limitado de looks num estilo coerente, que eram mostrados dentro de uma periodicidade definida (primavera/verão e outono/inverno). A maison Worth também executava e enviava looks em tempo recorde. Pasmem: o prazo era de 24 horas para um vestido e pouco mais de uma semana para um guarda-roupa completo!
Um exemplo do estilo opulente pelo qual a maison Worth ficou conhecida: um vestido no estilo tapissier, típico dos anos 1870, coberto de franjas de seda
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Essa eficiência se explica pela maneira na qual Worth organizou seu ateliê, que chegou a produzir 10.000 roupas num só ano e empregar 1.200 funcionários: a produção era dividida por especialidades e o processo incluía “atalhos” emprestados da indústria da confecção, como o uso de máquinas de costuras nas partes menos delicadas e a criação uma quantidade de moldes padronizados intercambiáveis, que eram adaptados às medidas da cliente e personalizados uma variedade impressionante de tecidos, adornos e decorações. Primeiro estilista a ganhar o tratamento de gênio, Worth criou uma grife tão forte que, depois de sua morte em 1895, sua maison continuou com fôlego durante décadas nas mãos de seus descendentes. Le roi est mort, vive le roi!
Manta de corte bordada com flores de organza, usada por Franca Florio em 1902
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Vestido de veludo com lírios de cetim, encomendado pela lendária condessa de Greffulhe, aristocrata que inspirou uma personagem de Marcel Proust
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Serviço
Exposição “Worth, o Criador da Alta-Costura”
Petit Palais – Musée des Beaux-Arts de la Ville de Paris – @petitpalais_musee
Avenue Winston Churchill, Paris, França
Até 7 de setembro de 2025
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