O petróleo disparou depois que os EUA atacaram as três principais instalações nucleares do Irã e ameaçaram realizar novos ataques, exacerbando a crise no Oriente Médio e alimentando preocupações de que o fornecimento de energia da região pudesse ser interrompido. O Brent, referência global, subiu até 5,7%, para US$ 81,40 o barril, reforçando a tendência de altas acumuladas nas últimas três semanas.
A diferença entre os preços de contratos futuros, conhecida como spread, também aumentou. Em um pronunciamento no fim de semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que os ataques aéreos “destruíram completamente” três instalações nucleares no Irã e ameaçou realizar novas ações militares, caso o país não demonstrasse interesse em negociar a paz. Em sua resposta inicial, Teerã (capital do país), alertou que os ataques trariam “consequências eternas”.
A ofensiva dos EUA — que teve como alvo instalações em Fordow, Natanz e Isfahan — eleva dramaticamente as apostas no confronto e aumenta o custo extra nos preços, conhecido como “prêmio de risco”, para compensar o perigo de uma possível interrupção no fornecimento. Ainda assim, o tamanho da alta no petróleo vai depender de como o Irã decidirá reagir aos ataques dos EUA.
O mercado global de petróleo está em alerta desde que Israel atacou o Irã há pouco mais de uma semana, com contratos futuros em alta, volumes de opções disparando. Ao mesmo tempo, houve um aumento das taxas de freta e os preços previstos para os próximos meses (a chamada curva de futuros), indicando preocupação com uma possível redução na oferta de petróleo em curto prazo. O Oriente Médio responde por cerca de um terço da produção mundial de petróleo, e preços mais altos e sustentados aumentariam as pressões inflacionárias em todo o mundo.
“Isso pode nos colocar em um caminho para o petróleo a US$ 100, se o Irã responder como já ameaçou anteriormente”, disse Saul Kavonic, analista de energia da MST Marquee. “Esse ataque dos EUA pode gerar uma conflagração do conflito.”
Há múltiplos riscos sobrepostos para o fluxo físico de petróleo. O maior deles diz respeito a possibilidade do Irã fechar o Estreito de Ormuz como retaliação aos EUA. Cerca de um quinto da produção mundial de petróleo passa por essa faixa marítima na entrada do Golfo Pérsico.
O parlamento iraniano pediu o fechamento do estreito, segundo a TV estatal, mas tal medida só pode ser implementada com a aprovação explícita do líder supremo, Aiatolá Ali Khamenei.
Além disso, o Irã pode optar por atacar a infraestrutura de petróleo de fornecedores rivais no Oriente Médio, como outros membros da Opep+, incluindo Arábia Saudita, Iraque ou Emirados Árabes Unidos. Após a ofensiva dos EUA, tanto Riad (capital da Arábia Saudita) quanto Bagdá (capital do Iraque) expressaram preocupação com o bombardeio das instalações nucleares.
Em outras frentes, o Irã pode orquestrar ataques a navios do outro lado da península Arábica, no Mar Vermelho, incentivando os houthis, rebeldes que comandam grande parte do Iêmen, a hostilizar embarcações. Após os ataques dos EUA, o grupo ameaçou retaliação.
Se as hostilidades escalarem, as próprias capacidades de produção de petróleo do Irã podem ser alvo, incluindo o principal terminal de exportação da Ilha de Kharg. Tal movimento poderia fazer os preços do petróleo dispararem, um desfecho que os EUA provavelmente querem evitar. Até agora, Kharg foi poupada, com imagens de satélite indicando que o Irã tenta acelerar suas exportações de petróleo.
A crise também volta a chamar atenção para o papel da Opep e seus parceiros, como a Rússia. Nos últimos meses, esse grupo tem aumentado a produção de petróleo aos poucos para tentar recuperar espaço no mercado. Mesmo assim, os países da Opep+ ainda têm uma boa margem para extrair mais petróleo rapidamente, se acharem necessário — o que pode ajudar a equilibrar o mercado se a crise piorar.