Os crimes reais por trás de ‘Adolescência’

Owen Cooper como Jamie Miller na minissérie ‘Adolescência’ (Divulgação/Netflix)

Recém lançada na Netflix, a minissérie Adolescência lidera a lista de séries mais vistas da plataforma no Brasil com uma história perturbadora. Em uma noite tranquila, a polícia invade a casa da família de Jamie Miller (Owen Cooper) e prende o garoto de 13 anos pelo assassinato de uma colega de classe. Dividida em quatro episódio gravados em plano sequência (quando não há cortes entre as cenas), a produção revela como o crime vira de ponta cabeça a vida da família, alertando, sobretudo, para os perigos do bullying e da cooptação de meninos por grupos com discursos misóginos e violentos na internet. Embora a história dos personagens seja fictícia, há uma trágica inspiração real por trás dela.

Em entrevista ao site Tudum, da Netflix, um dos criadores da minissérie, Stephen Graham — que também dá vida a Eddie Miller, o pai do garoto preso — explicou que a ideia do roteiro surgiu de uma série de notícias de adolescentes que esfaquearam garotas na Inglaterra. “Houve um incidente em que um jovem [supostamente] esfaqueou uma menina. Fiquei chocado e pesando: ‘O que está acontecendo? O que está acontecendo na sociedade em que um menino esfaqueia uma menina até a morte?”, contou ele, dizendo que outros casos semelhantes aconteceram em seguida. “Aconteceu de novo, e aconteceu de novo, e aconteceu de novo. Eu queria lançar uma luz sobre isso e questionar por que isso está acontecendo hoje e como chegamos a isso?”, explicou.

O aumento de crimes com arma branca perpetrados por menores de idade contra mulheres é uma preocupação crescente na Inglaterra. Em março de 2023, o Ministério da Justiça condenou ou advertiu quase 18.500 pessoas por crimes relacionados a facas. Destes, aproximadamente 17,3% dos infratores tinham entre 10 e 17 anos. Em setembro daquele ano, uma jovem de 15 anos foi morta a facadas por um garoto de 17. Pouco depois, em 2024, um outro garoto da mesma idade esfaqueou fatalmente três estudantes, todas garotas, durante uma aula de dança temática da cantora Taylor Swift.

O aumento de casos como esse, inclusive, chocou tanto a opinião pública que o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, declarou em janeiro deste ano que há um “novo terrorismo” no país, perpetrado por “jovens solitários e desajustados em seus quartos acessando todo tipo de material online, desesperados por notoriedade”, fazendo referência à cultura incel abordada na serie.