No dia 22 de fevereiro de 2022, um homem invadiu a enorme loja da Apple na praça Leidseplein, Amsterdã, e fez um refém — quatro outras pessoas se esconderam em um depósito do edifício e cerca de 70 ficaram encurraladas no andar superior. Sem explicar suas motivações, ele exigiu 200 milhões de euros em criptomoedas e uma limusine para fugir do local. O drama traumatizou a cidade pacífica — e impactou o cineasta holandês Bobby Boermans, que morava nos arredores. Daí nasceu o desejo do diretor em fazer o filme iHostage, que chegou ao topo do ranking de longas mais vistos na Netflix no Brasil. O evento real que durou em torno de cinco horas foi resumido em intrigantes 90 minutos de duração do filme, que se ateve aos fatos para retratar o ocorrido, mas tomou liberdades poéticas em relação aos personagens. Saiba mais sobre eles e a razão para essa decisão narrativa.
Quem foi o sequestrador real de iHostage?

No filme, o nome do sequestrador é trocado para Ammar Ajar — interpretado pelo ator holandês de origem marroquina Soufiane Moussouli. Na vida real, ele era Abdel Rahman Akkad, também holandês, mas de ascendência síria. Akkad tinha 27 anos quando invadiu a loja envolto com explosivos no corpo e ameaçou explodir o quarteirão caso não fosse atendido. Como mostra o filme, após ser atropelado enquanto corria atrás do refém fugitivo, Akkad morreu no hospital no dia seguinte. Descobriu-se, então, que a bomba era real, mas não estava ativa, logo, não oferecia perigo algum. Em busca de respostas, a polícia investigou a casa onde ele vivia, sua família e o local onde ele cresceu, interrogou seus conhecidos, mas, mesmo assim, não chegou a uma definição sobre seus motivos para o roubo. A certeza que ficou é que ele sofria com problemas mentais e tinha ficha na polícia — Akkad chegou a ser detido por porte ilegal de arma no passado e foi denunciado por uma ex-namorada, que conseguiu uma medida restritiva contra ele. Akkad também enfrentava dificuldades financeiras advindas especialmente de um empreendimento que não deu certo.
Ilian Petrov é um personagem real?

Sim e não. Ilian Petrov, interpretado pelo ator Admir Sehovic, é inspirado no homem que, de fato, foi feito de principal refém Abdel Rahman Akkad. Inicialmente, ele foi identificado como um homem inglês que estaria na cidade a trabalho. Mais tarde, descobriu-se que o cliente era búlgaro e tinha 44 anos. Isso é tudo que se sabe sobre ele, que preferiu se manter distante dos holofotes após o momento traumático. Assim como mostra o filme, ele realmente fugiu do sequestrador numa brecha de atenção enquanto tentavam pegar água enviada pela polícia.
Mingus existiu?

Sim, e seu nome na vida real é Alex Manuputty. Assim como no filme, o funcionário da Apple, interpretado por Emmanuel Ohene Baofo, ajudou três clientes a se esconderem em um depósito no térreo da loja durante a invasão. Curiosamente, Manuputty não deveria estar na loja aquele dia. Era sua folga, mas um colega pediu para trocar com ele. Quando Abdel Rahman Akkad entrou armado no local, ele quis fugir pela porta como muitos clientes conseguiram fazer, mas não estava numa rota que passaria despercebido pelo sequestrador. Ele tentou fugir por uma saída de emergência com um cliente, mas com a demora do elevador, o funcionário optou por entrar em um depósito e levou consigo o rapaz que estava atendendo antes, mais uma mãe e sua filha. O espaço tinha apenas 2 metros por 1,5 de dimensão. Manuputty revelou depois que achou que iria morrer e até mandou mensagens de texto para seu filho, irmãs e amigos se despedindo. Mais tarde, ele co-assinou o livro 330 Minutes, ao lado de Stephane Roozen, que narra os eventos daquele dia. Manuputty deixou a loja da Apple em 2024 e ainda hoje lida com traumas do sequestro, entre eles claustrofobia e gagueira. Confira abaixo o encontro do ator do filme com o personagem da vida real.
Quem são Lukas, Bente e Soof?

Parte curiosa do caso é que, exceto Alex Manuputty, os reféns envolvidos preferiram se manter longe dos holofotes ou falar em público sobre o ocorrido. Logo, não se sabe o nome verdadeiro, nem a profissão do trio que ficou mais de cinco horas preso no depósito enquanto um homem armado dominava a loja do lado de fora. Sabe-se, porém, que realmente se tratava de uma mãe e a filha de 13 anos, e de um rapaz que estava sendo atendido por Manuputty antes. Os cinco reféns foram condecorados pela cidade de Amsterdã.