Em nova coluna, Rachel Maia fala sobre o poder da autoestima e a importância da representatividade na formação de jovens negras Perceber-se como igual na sociedade não é comum para meninas negras que, desde muito cedo, são questionadas quanto a sua beleza. É importante ressaltar que isso tem mudado ano após ano e que o ganho é um mercado diversificado e mais aquecido nas áreas de saúde, beleza, estética e bem-estar. De acordo com uma publicação do portal Sebrae em 2022, mulheres negras movimentam anualmente R$ 700 bilhões em negócios.
Contemplar as múltiplas belezas é algo pelo qual nos movemos continuamente. Eu, por exemplo, como uma mulher negra ocupando espaços como CEO de multinacionais do mercado de luxo, pude perceber a falta de representatividade e também pude articular novos caminhos.
O mundo publicitário tem se renovado gradativamente e, à medida que isso acontece, a beleza de cada indivíduo se acentua naturalmente. Nos últimos anos, especialmente no pós-pandemia de Covid-19, muitas pessoas tiveram a oportunidade de se enxergarem livremente, sem que o olhar do outro fosse tão importante para compreenderem e aceitarem suas origens, sua idade, seus desejos.
Começaram a aparecer, em grande escala, cabelos crespos, cacheados, grisalhos — apenas cabelos, e uma versão de si mesma ainda desconhecida. Quando fui convidada para participar como jurada do Concurso Estudantil Princesas Negras, um projeto socioeducativo voltado para jovens e adolescentes negras, idealizado pelo coordenador cultural Cleuder de Paula, aceitei de imediato!
“É comum algumas pessoas acreditarem, equivocadamente, que o projeto se trata de um concurso de beleza. No entanto, o projeto é, acima de tudo, socioeducativo, pois trabalhamos na valorização da autoestima dessas garotas em relação ao seu fenótipo e ressaltamos que não somos descendentes de escravos, como tentaram nos fazer acreditar, mas de reis e rainhas africanos que foram sequestrados e escravizados”, ressalta Cleuder de Paula.
A primeira etapa do concurso, intitulada Formação de Princesas, é uma das mais importantes, pois promove o conhecimento sobre temas imprescindíveis para o crescimento pessoal e profissional, como Projeto de Vida, Ética e Cidadania e Educação Antirracista, entre outros. O concurso já está na segunda edição, acontece anualmente no CEU Parque Bristol, na zona sul de São Paulo, e é executado pela Coordenação de Promoção de Igualdade Racial da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania.
Rachel Maia e Ana Carolina
Acervo Pessoal
Estilistas negros compõem o projeto na segunda etapa do concurso, quando acontece o desfile de moda. As concorrentes, que aprenderam técnicas de passarela, desfilam com vestidos produzidos para o momento em que a pergunta — “O que significa ser uma mulher negra na sociedade brasileira?” — define quem será coroada a Princesa Negra.
Ao contemplar jovens negras, com idade entre 15 e 25 anos, que tiveram a oportunidade de passar por uma formação de desenvolvimento pessoal e profissional, com palestras e rodas de conversa, compreendi a importância do que temos feito nas organizações ao promover acesso, inclusão e diversidade no meio corporativo.
Jennifer Souza, 18 anos, eleita a Princesa Negra 2024, além de identificar seus pares como belos, teve a oportunidade de potencializar sua beleza, e cravar outras possibilidades em sua jornada acadêmica, social e profissional. “Estou me sentindo realizada, pois aprendi muito nesse projeto. Antes de participar, eu não tinha amizades pretas. Estou muito feliz”, disse a Princesa Negra. Quando há caminhos a percorrer e descobrimos como, seguimos em frente, e isso é o bastante para realizar.
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.
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