Com estação de sapateiro, a loja aposta na extensão do ciclo de vida dos produtos e reforça o compromisso com o cuidado após a venda Pioneira na adoção de práticas estruturadas de sustentabilidade no setor da moda, a marca francesa VEJA construiu um legado pautado por cadeias produtivas éticas, comércio justo e inovação. Agora, reforça esse compromisso ao inaugurar sua primeira loja física na América Latina, na Rua Oscar Freire, em São Paulo. Um grande destaque é a estação de sapateiro, que oferece serviços de reparo e limpeza de calçados — iniciativa que busca prolongar a vida útil dos produtos e reduzir o descarte desnecessário.
Mais do que lançar um item de moda, o objetivo da VEJA, desde o início, foi criar um tênis com impacto positivo nos pilares social, ambiental e econômico. Sem recorrer a anúncios publicitários, a jornada da marca em direção à sustentabilidade faz parte de sua identidade.
“Estávamos atuando no mercado financeiro em Nova York, mas não estávamos satisfeitos com a perspectiva de vida que se formava. Em uma conversa, decidimos largar tudo e dar uma volta ao mundo por um ano, mas queríamos também um objetivo profissional. Pensando em como as empresas podem responder aos problemas da sociedade, fizemos um projeto de pesquisa sobre negócios sustentáveis. Porém, ao percebermos que muitas companhias não queriam mudar, decidimos criar nossa própria empresa, com base em valores sociais, ecológicos e econômicos”, contam os fundadores franceses da VEJA, François-Ghislain Morillion e Sébastien Kopp.
A primeira viagem ao Brasil foi um ponto de virada. “Na busca por fornecedores, encontrei nosso projeto. Descobrimos cadeias produtivas já organizadas, como a do algodão orgânico e a da borracha nativa, estruturadas por comunidades que há décadas lutam por seus direitos na floresta. O movimento social no Brasil era muito ativo naquele momento e quando apresentamos nossa ideia, rapidamente fomos conectados com sindicatos, cooperativas e outros atores fundamentais. Voltei para a França com toda a cadeia já pensada, enquanto Sébastien articulava com o mercado e desenvolvia o conceito do produto”, relembra François.
Agricultor de algodão agroecológico
Divulgação
Hoje, a VEJA trabalha com mais de 5 mil famílias e lidera o desenvolvimento completo de seus produtos, utilizando algodão agroecológico produzido por agricultores familiares do Nordeste do Brasil e do Peru, borracha nativa da Amazônia, couro do Rio Grande do Sul e do Uruguai, além de materiais reciclados como o PET de garrafas pós-consumo, processado sem uso de água.
François destaca o papel estratégico da borracha na conservação da floresta amazônica. “Essa borracha só existe na Amazônia e pode ser uma ferramenta para preservar a floresta. A seringueira, árvore da qual é extraída, precisa das árvores vizinhas e do ecossistema ao redor, portanto, garante a conservação do todo”, explica.
Vinte anos após sua fundação, a VEJA abre sua primeira loja na América Latina, reafirmando um de seus pilares fundamentais: a transparência. Dentre os destaques da loja está a estação de sapateiro, um serviço dedicado à limpeza e ao reparo de tênis usados.
Essa iniciativa faz parte do projeto “Limpar, Reparar e Coletar”, já presente nas lojas da marca em cidades como Paris, Bordeaux, Berlim, Madri e Londres. “Começamos este projeto sonhando com a reciclagem. Fizemos um estudo do ciclo de vida dos nossos produtos, para termos dados, e então entendemos que o maior impacto está na cadeia produtiva, na qual já atuamos. Agora queremos fazer algo para o fim do ciclo do produto. Porém, entendemos que a tecnologia para a reciclagem é ainda muito precária, e que podemos reduzir o impacto aumentando a vida útil do produto”, diz Sebastian.
Estação para conserto em Bordeaux, França.
Divulgação
De fato, a circularidade é um desafio global na indústria da moda — e que é ainda mais complexo no caso dos calçados, que são feitos com diversos materiais. “Notamos que muitas pessoas jogam fora seus tênis velhos, mesmo quando ainda podiam ser consertados”, relatam os fundadores. Desde o início do programa, mais de 45 mil pares já foram reparados ao redor do mundo.
Ao mesmo tempo, a marca desenvolveu uma estação de reparos dentro de um contêiner móvel, em parceria com a Log’ins, uma empresa de reinserção profissional que também cuida da logística da marca. Diferente de outras empresas que descartam pares com pequenos defeitos, a VEJA os coleta e conserta. Só esse contêiner móvel repara mais de mil tênis por mês. Desde 2020, mais de 27 mil pares foram recuperados por meio da iniciativa.
Estação para conserto em Bordeaux, França
Divulgação
O incentivo à extensão de vida dos produtos é uma estratégia que contribui não apenas para a redução de geração de resíduos, mas também para o fortalecimento de uma cultura de cuidado que vem se perdendo conforme o ritmo acelerado de consumo e o descarte proposto pelo fast fashion. Com a abertura da nova loja no Brasil, a marca dá mais um passo concreto rumo à moda circular, fortalecendo sua conexão com o país e com os valores que a sustentam desde o início.
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.
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