A drag queen, que se apresenta no Drag Brunch neste sábado, fala à Vogue Brasil sobre representatividade, o poder da arte, seu novo disco e a evolução do “Drag Race Brasil” Grag Queen viu sua vida mudar da água para o vinho ao conquistar o título do Queen of the Universe – uma espécie de spin-off internacional do fenômeno RuPaul’s Drag Race. O troféu não só colocou seu talento no radar mundial, mas também abriu portas para um convite irrecusável: apresentar a versão brasileira do programa que colocou a cultura drag no centro das atenções globais.
Depois de uma primeira temporada ainda tímida, cheia de dúvidas e aprendizados, Grag está pronta para afiar ainda mais as garras. A segunda temporada do Drag Race Brasil estreia em 10 de julho, prometendo um elenco afiadíssimo e uma produção que está muito mais alinhada com o que os fãs da franquia esperam.
Mas antes disso, para quem quer ver a estrela de perto, neste sábado (21.06), Grag é a atração principal do Super Drag Brunch Brasil, no Varanda Estaiada, em São Paulo — um encontro de performances, música e celebração da diversidade, justamente na semana da Parada LGBTQIAPN+ da capital paulista. Durante sua preparação, a artista conversou exclusivamente com a Vogue Brasil e falou sobre sua trajetória, o papel de voz potente que assumiu para a comunidade LGBTQ+, os desafios e aprendizados como apresentadora, as novidades musicais que estão chegando e ainda deixou um recado poderoso para jovens que ainda têm medo de se expressar.
“Sempre me coloquei nesse lugar”
“Quando me entendi como uma pessoa LGBTQIAPN+, já vinha com muita revolta. Venho de um histórico de tentativa de conversão dentro da igreja, de um ambiente familiar turbulento, por falta de informação e por protocolos sociais engessados. Quando compreendi tudo isso, veio também uma rebeldia: saí dos musicais, não queria mais cantar sobre Chapeuzinho ou Natal. Eu via pessoas como eu dentro da igreja, tentando ser artistas também”, contou Grag.
Ela lembra que uma das grandes inspirações foi Liniker, cuja liberdade no palco despertou nela a certeza de que queria ser artista de verdade. “Vi ela tão livre no palco que pensei: “eu quero ser artista”. Já sabia que era, mas entendi que precisava mudar vidas, comunicar, escrever ‘bota fé’, falar pra galera acreditar no seu axé. Isso virou o propósito da minha vida. A drag só vem pra realçar esteticamente e me dar esse axé que o Gregory não teve na construção — de se achar lindo, de se achar poderoso. A Grag é meu espinafre, tipo Popeye — é o meu Grag Green.”
Grag Queen
Divulgação
Novidades na música: um álbum sem medo
Grag não é só uma performer brilhante, ela também está investindo pesado na carreira musical. “Acabei de assinar com uma das maiores gravadoras do Brasil — e do mundo também — a Warner Music. Também assinei com a Warner Chappell. Isso é um feito gigante na minha carreira como drag queen.” Ela já está trabalhando no primeiro álbum, com uma estética só sua, letras muito sinceras, músicas que sempre quis lançar, “sem pressão, sem medo do mercado, sem a intenção de ‘hitar’.” O disco deve sair ainda este ano, e duas faixas já vão estar presentes no programa Drag Race Brasil 2 — afinal, “tem que divulgar!”. “Venho por meio deste avisar que a Grag lembrou que também é cantora! Tenho certeza de que vocês vão amar esse álbum, as formas de divulgação, meu show novo, as datas, as novas turnês… 2025 e 2026 vão ser puxados!”
Entre a primeira e a segunda temporada: evolução e afinação
Sobre o elenco da segunda temporada, Grag conta que o clima está outro. “Segunda chance é segunda chance. Todas nós, na primeira temporada, estávamos com dúvidas: ‘será que vai ser legal?’, ‘será que vai dar certo?’, ‘será que vou ganhar seguidor?’, ‘será que vão gostar de mim?’. Já as meninas da segunda temporada chegaram sabendo como funciona, o que vale a pena fazer, quanto cobrar, o que funciona na TV.”
Ela também destaca o aprendizado próprio e da equipe: “Eu também aprendi: o que funciona de look, de piada… toda a equipe teve essa oportunidade. E é por isso que as segundas temporadas das franquias Drag Race muitas vezes são melhores. A gente tem chance de revisar tudo. Tenho muito orgulho do primeiro elenco e do meu desempenho, mas a segunda temporada tem aquele gostinho de comida requentada, mas bem temperada e deliciosa.”
Responsabilidade, cuidado e representatividade
Ser apresentadora de um fenômeno global como o Drag Race traz uma enorme responsabilidade, que Grag encara com amor e compromisso. “Estou lidando com os sonhos das meninas, vendo elas irem embora, sentindo tudo. Eu sou canceriana, tenho 29 anos, sou muito amorosa. Isso me atravessa de verdade.”
Além do programa, ela mantém o suporte às participantes: “Depois do programa, também tem a responsabilidade de continuar com elas, dar suporte, criar uma relação de confiança, mostrar que é TV, é trabalho. Eu brinco que sou mãe e filha, mas sinto um amor muito parecido com o da minha mãe por mim. É cuidado, parceria. ‘Mãe, o que você acha desse contrato?’, ‘Manda pro meu advogado?’ — eu ajudo mesmo, coloco minha equipe à disposição.” Grag também atua como porta-voz da cultura drag em Hollywood, “e faço isso com simpatia, do jeitinho brasileiro, pra garantir muitas temporadas do Drag Race Brasil.”
Grag Queen
Divulgação
A plateia brasileira: apoio e intensidade
Sobre o público brasileiro, ela é enfática: “Já estamos em 2025 e não cabe mais fingir costume, o Brasil dá a melhor audiência, que são a melhor plateia, os melhores ouvintes, os melhores apoiadores, tanto digitalmente quanto presencialmente. O Brasil entrega 360.”
Ela completa: “Então não tem nem comparação, o amor e apoio que temos dos fãs brasileiros. As próprias gatas que são de fora sabem que o Brasil é babado, que os fãs brasileiros são os mais assíduos, e isso acaba monetizando.” E destaca ainda a inteligência da audiência nacional: “E eu amo que todos os fãs do Brasil se unem para assinar WOW (canal de streaming da produtora World Of Wonder), para combater pirataria; os fãs do Brasil são muito inteligentes também, para que tudo seja revertido em coisas boas, para que tenham mais e mais temporadas.”
Ela ressalta que a escuta é constante: “Óbvio que se tem alguma coisa errada eles falam, eles estão lá, e são os primeiros a dizer, mas muitas vezes também constroem, e podem ter certeza de que muitas melhorias que estão presentes na segunda temporada, vieram de comentários de fãs, porque a gente tem que ouvir o nosso público né?! Não adianta fazer a linha da rainha que manda e os outros obedecem. A gente é democrática.”
Um recado para quem ainda tem medo de se expressar
Para fechar, Grag deixou um recado potente para jovens LGBTQIAP+ que ainda não se sentem seguros para se expressar plenamente: “Eu tenho vivido uma reviravolta e aprendido muito a me ouvir e me conhecer. Nosso corpo fala, nosso coração fala — e é importante a gente entender o que quer, revisitar princípios, sentir os instintos e ter coragem de fazer seus corres.”
Ela reforça que não precisa ser artístico: “Pode ser correr atrás da sua carreira, da sua casa nova, de morar fora do Brasil, de conquistar o mundo. Eu já estive nesse lugar sem saber onde me expressar, e a saída foi me conhecer, tomar posse de quem eu sou. Somos responsáveis pela nossa narrativa — e podemos mudá-la quando quisermos. Não tem certo ou errado.”
O encerramento é de inspiração: “Vambora, porque a vida é curta demais para vivermos presos dentro de nós mesmos por causa de opressão externa com a qual nem concordamos.”
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