Psiquiatra explica como este movimento pode ser benéfico para a saúde mental e como evitar mais ansiedade ao ficar um mês longe de telas Fevereiro chegou e, com ele, uma tendência que vem crescendo entre os que buscam um respiro no meio da overdose de telas e notificações: o “Free Phone February”. A ideia é simples, mas poderosa: reduzir, ou até mesmo eliminar, o uso de dispositivos móveis ao longo de um mês, buscando reconectar-se com o mundo offline. Mas como a diminuição do uso de celulares pode impactar nossa saúde mental? E até que ponto essa pausa temporária é benéfica para o cérebro? Conversamos com o psiquiatra Filipe Batista para entender mais sobre o movimento e seus efeitos.
O uso constante do celular está diretamente ligado a uma série de questões psicológicas. “A exposição contínua a informações, notificações e a pressão de estar sempre disponível contribui para o aumento de sintomas de ansiedade, depressão e estresse”, explica Filipe Batista. A constante conectividade é desgastante, mas um fator ainda mais alarmante é o uso noturno de dispositivos móveis, que compromete o sono. “A luz azul das telas inibe a produção de melatonina, um hormônio essencial para regular nosso ciclo sono-vigília”, revela o psiquiatra.
Além disso, o uso excessivo pode levar ao desenvolvimento de condições como a dependência digital e a nomofobia. A dependência digital, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como transtorno, é caracterizada pela dificuldade em controlar o tempo gasto online e pela negligência de outras áreas da vida. Já a nomofobia, ou o medo irracional de ficar sem o celular, pode resultar em comportamentos como checar incessantemente o dispositivo ou dificuldade em desconectar-se. “Esse ciclo vicioso, onde a pessoa busca alívio no celular, acaba piorando a ansiedade e sobrecarregando ainda mais a mente”, completa Filipe.
O conceito de “detox digital” tem sido amplamente adotado por aqueles que buscam uma pausa da constante avalanche de informações que nos cercam. Mas, será que esse conceito tem respaldo científico? “A pausa ou redução no uso de dispositivos pode ser extremamente benéfica”, afirma Filipe Batista. O psiquiatra explica que períodos de desconexão podem reduzir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, melhorar a qualidade do sono e até mesmo aumentar a capacidade de concentração. Além disso, a diminuição do tempo online funciona como um “reset” para o cérebro, permitindo uma reavaliação de hábitos e incentivando a busca por atividades offline que favorecem o bem-estar, como leituras, práticas de mindfulness e interações sociais presenciais.
Como reduzir o uso de telas sem aumentar a ansiedade ou o FOMO?
Quando falamos sobre reduzir o uso de celulares, a transição deve ser feita com cautela. “O segredo é não fazer mudanças bruscas. Comece identificando os momentos em que o uso do celular é mais compulsivo e substitua essas atividades por alternativas saudáveis”, orienta Filipe. Caminhadas, meditação e conversas pessoais são algumas dessas alternativas.
A sensação de FOMO (medo de estar perdendo algo) é outro desafio que pode surgir durante um detox digital. “Estar sempre conectado não significa estar verdadeiramente envolvido. O foco deve estar no que você ganha ao se desconectar: mais tempo para si mesmo e para as pessoas ao seu redor”, diz o psiquiatra. Estabelecer horários específicos para checar redes sociais ou e-mails também é uma estratégia eficaz para controlar essa ansiedade.
Reduzir significativamente o uso de celular por um período de um mês pode trazer mudanças notáveis no cérebro. “Uma das primeiras alterações é a diminuição na liberação de dopamina, o neurotransmissor associado às recompensas imediatas, como as notificações e as interações nas redes sociais”, explica Filipe Batista. Essa diminuição ajuda a quebrar o ciclo compulsivo de busca por recompensas rápidas.
Além disso, a redução do tempo de tela tem um efeito positivo na plasticidade cerebral, a capacidade do cérebro de formar novas conexões. Isso favorece funções cognitivas importantes, como atenção, memória e criatividade. “Com menos distrações digitais, a qualidade do sono melhora, a ansiedade tende a diminuir e há um aumento na satisfação com as interações sociais presenciais”, resume o especialista.
No fim das contas, o “Free Phone February” vai além de um simples desafio. Ele se propõe a ser uma oportunidade de reavaliação. Durante um mês de desconexão, podemos redefinir nosso relacionamento com a tecnologia, priorizando a qualidade das interações e buscando atividades que promovam uma saúde mental mais equilibrada. A cada mês sem o peso das notificações, os benefícios para o corpo e a mente ficam ainda mais claros.
“A chave para um detox digital bem-sucedido é a consciência”, conclui Filipe Batista. Se você está se sentindo sobrecarregado pelas telas, talvez seja hora de tentar uma pausa — o cérebro, e o coração, vão agradecer.