A oito dias do primeiro turno das eleições de 2024, o debate com os candidatos à prefeitura de Curitiba, realizado neste sábado (28), pela RICTV, teve discussões sobre ideologia de gênero, radares no trânsito, implementação de metrô, redução de tarifa de ônibus, habitação e saúde.
O debate foi dividido em três blocos – dois deles com perguntas de jornalistas e um de confronto direto entre os postulantes ao cargo -, e contou com a participação de Andrea Caldas (Psol), Eduardo Pimentel (PSD), Luciano Ducci (PSB), Luizão Goulart (SD), Maria Victoria (PP) e Ney Leprevost (União) – candidatos dos partidos com mais representatividade no Congresso Nacional, conforme determina a lei eleitoral. A mediadora foi a jornalista Manuella Niclewicz.
Apesar da proximidade do pleito, os candidatos que lideram as pesquisas evitaram embates diretos. O vice-prefeito Pimentel, que tem maior intenção de voto, segundo a Quaest* divulgada em 17 de setembro, evitou perguntar para Ducci e Leprevost, que estão no segundo e terceiro lugar, respectivamente, de acordo com o levantamento.
Ainda no primeiro bloco, os candidatos Andrea Caldas e Ney Leprevost debateram sobre a adoção de linguagem neutra em escolas. “A questão de linguagem neutra que chamamos de linguagem inclusiva é demanda da comunidade LGBT e é uma questão que cabe num debate de língua portuguesa. Estou mais preocupada como a futura prefeitura combater a violência contra a população LGBT. O Brasil é o pais que mais mata a população LGBT”, respondeu Andrea.
Leprevost rebateu dizendo que tem “respeito e consideração pela comunidade LGBT de Curitiba”. “Vamos lutar pra diminuir essa criminalidade odiosa que acontece contra a comunidade LGBT, mas eu sou contra veementemente a linguagem neutra, contra ideologia de gênero nas escolas. Eu defendo a família, eu defendo a vida, sou contra aborto, sou contra qualquer uma das pregações doutrinarias da esquerda”.
Andrea rebateu: “É bom momento de desfazer equívocos: ideologia de gênero é invenção de grupos conservadores. Não existe ideologia de gênero, é mais uma de fake news”.
Metrô
O início do debate também contou com a promessa de implementação de metrô em Curitiba pelo candidato Luciano Ducci. “Estou me comprometendo a pegar o projeto do metrô, botar debaixo do braço, ir pra Brasília, conversar com governo Lula e ver se tem possibilidade no PAC mobilidade, para gente trazer esse recurso para executar obra do metrô em Curitiba”.
Ao comentar a pergunta feita a Ducci, Luizão ressaltou a necessidade de discussão sobre o tema com a sociedade curitibana para a revisão do estudo feito há 15 anos, dentro dos projetos de investimentos previstos para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. “Vamos ver se ainda é viável a implementação do metrô em Curitiba”, ponderou.
Ainda na área de mobilidade urbana, Leprevost prometeu reduzir a “domingueira” para R$ 1 antes do fim do primeiro semestre de 2025. “Vou reduzir também a tarifa de segunda a sábado para apenas R$ 5 e isso vai acontecer rapidamente, porque a gente têm os cálculos precisos, elaborados pelos excelentes economistas que estão me ajudando no plano de governo”, projetou.
Ducci, por sua vez, prometeu tarifa zero nos domingos, “para que as pessoas possam ir para as praças” e ainda planejou a integração temporal entre ônibus. “Descer de um ônibus e até duas horas pegar outro ônibus” com integração da passagem.
Na avaliação de Andrea Caldas, o investimento em transporte público deve melhorar o trânsito de Curitiba com a redução no número de carros nas ruas. Para isso, a candidata do Psol defende a bandeira da tarifa zero. “A partir do primeiro ano, vamos ter passe livre estudantil pra todos os estudantes.”
Radares em debate e críticas à prefeitura de Curitiba
Questionado pela jornalista Camila Andrade sobre os radares na cidade e acusação por parte de outros candidatos de uma “indústria da multa”, Pimentel defendeu o radar “com sinalização bem feita”. “Nos últimos oito anos, tivemos redução de 43% no número de mortes no trânsito. É isso que busco: zero mortes no trânsito”, disse o candidato, que é vice-prefeito na gestão de Rafael Greca (PSD).
Escolhida para comentar o assunto, a candidata Maria Victoria rebateu Pimentel e citou a a arrecadação milionária proveniente das infrações de trânsito. “Nossa proposta são duas advertências antes da multa pelos radares. A indústria da multa arrecada R$ 200 milhões por ano. É prerrogativa do prefeito decidir se vai multar ou advertir. As pessoas estão cansadas de tantas multas, ponto na carteira e ter que fazer reciclagem”, argumenta.
O tema de radares voltou ao debate no terceiro bloco com a defesa de um radar educativo “e não punitivo e arrecadatório” pelo ex-prefeito Ducci. “Por todos os cantos tem radar, em ruas secundárias, atrás de poste, de árvore e não sinalizado. Nós vamos sinalizar todos os radares de Curitiba, como aconteceu quando fui vice em 2005”, prometeu.
“O radar tem que estar em locais que acontecem acidente, onde tem gente que morre, que tem batida de carro, que tem risco paras pessoas. E não pode estar lá só como arapuca. Em um ano, a prefeitura arrecada mais de R$ 200 milhões em multa e investe 1% em educação no trânsito. Esses radares têm função de arrecadação”, acusa.
A candidata Andrea calcula que a arrecadação com radares quadriplicou na atual gestão. “O radar tem que ser sinalizado, não escondido. É um alerta para que o motorista não cometa infração e não uma ratoeira”, compara.
Zerar filas de consultas, exames no SUS e vagas em creches
Quando questionada por jornalista sobre como zerar a fila de consultas em até 80 dias, Maria Victoria prometeu comprar consultas particulares em clínicas e hospitais, a exemplo do que é feito em São Paulo. “Vamos utilizar as clínicas, hospitais e médicos particulares que estão dispostos pelo valor de R$ 100 a receber toda essa demanda de consultas especializadas, exames e procedimentos”.
Ducci, que comentou a pergunta feita à candidata, disse que pretende “reorganizar a atenção básica em Curitiba, acabando com as terceirizações, fazendo concurso público, contratando novos profissionais para as unidades básicas de saúde.”
Em nova pergunta, Maria Victoria disse que também contratará vagas em creches privadas para zerar a fila na educação infantil, alterando parte do contrato que hoje está vigente. “A prefeitura paga por 200 dias dos 365 dias, o que é ruim, baixo atrativo, para que as creches atendam a demanda municipal”.
Ney Leprevost prometeu construir 38 novos Centros Municipais de Educação Infantil (Cmeis). “Vou também ampliar a parceira com as creches comunitárias, com quatro refeições por dia, aulas de musicoterapia, psicologia”, disse o candidato do União Brasil, que ressaltou que a recuperação da educação pública passa pela volta da valorização dos professores.
Moradias populares: Luizão acusa Pimentel de copiar projeto
O candidato Luizão afirmou que Curitiba tem um grave problema pela quantidade de pessoas que moram em locais irregulares e acusou Pimentel de plagiar a proposta do plano de governo do Solidariedade, que reserva 3% do orçamento para construir 5 mil novas casas por ano em áreas de risco, totalizando 20 mil no mandato. “Tenho dúvidas, Eduardo, de quantas casas essa gestão entregou em oito anos”, questionou.
Pimentel rebateu com o argumento que foi o primeiro a registrar o plano de governo no Tribunal Regional Eleitoral (TRE). “Eu falei que vou gerar 20 mil habitações através de construções com governos estadual e federal e recursos próprios, através do orçamento público municipal e fundo municipal”.
O vice-prefeito ainda reclamou dos ataques durante o debate nas considerações finais. “Sou igual a pão, quanto mais bate, mais cresce”, retrucou.
*Metodologia: 900 entrevistados pela Quaest entre os dias 14 e 16 de setembro de 2024. A pesquisa em Curitiba foi contratada pela Sociedade Rádio Emissora Paranaense Ltda/TV Paranaense. Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº PR-07358/2024.