O primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, convocou eleições antecipadas para 28 de abril, com as pesquisas indicando uma disputa acirrada entre seu Partido Liberal e os Conservadores, em meio a uma guerra comercial e provocações sobre a soberania canadense por parte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Carney solicitou a dissolução do parlamento canadense neste domingo (23), em uma reunião com a governadora-geral, Mary Simon, que representa o chefe de Estado, Rei Charles III, dando início à campanha eleitoral.
Ele assumiu o cargo de primeiro-ministro há apenas nove dias atrás, após vencer a disputa pela liderança dos liberais e substituir Justin Trudeau, que renunciou sob pressão de parlamentares do próprio partido.
Por mais de um ano, o Partido Conservador, liderado por Pierre Poilievre, manteve uma vantagem de dois dígitos nas pesquisas, explorando o descontentamento público com o custo de vida e a crise habitacional, problemas que ele vinculou às políticas de Trudeau.
No entanto, nas últimas semanas, as tarifas comerciais de Trump e suas ameaças de usar “força econômica” para transformar o Canadá em um estado dos EUA passaram a dominar o debate político, levando os canadenses a se unir em defesa da soberania nacional.
A retórica agressiva de Trump contra o Canadá alterou completamente os cálculos políticos. Uma pesquisa nacional do Abacus Data com 1.500 eleitores mostra os Conservadores ligeiramente à frente. No entanto, entre aqueles que consideram Trump o principal problema, os Liberais estão quase 30 pontos à frente, segundo o CEO da Abacus, David Coletto.
As novas tarifas americanas contra produtos canadenses se somam a desentendimentos sobre segurança na fronteira, gastos com defesa e acesso de bancos dos EUA ao mercado canadense. No ano passado, os EUA registraram um déficit comercial de mais de US$ 60 bilhões com o Canadá, um valor que Trump considera um subsídio desnecessário, impulsionado pela forte demanda americana por petróleo e gás canadenses.
Com Carney se apresentando como um gestor financeiro experiente, capaz de lidar com crises como a recessão de 2008, as perspectivas eleitorais dos Liberais foram revitalizadas. As pesquisas agora indicam que eles têm chances de conquistar um raro quarto mandato, podendo até obter a maioria dos 343 assentos na Câmara dos Comuns.
Pierre Poilievre, de 45 anos, criado na província petrolífera de Alberta, defende um governo menor, corte de impostos e menos regulamentação para impulsionar a indústria de petróleo e gás. Ele critica Carney e Trudeau como elites globais prejudicando os canadenses com uma ideologia radical e sem fronteiras.
Já Mark Carney, de 60 anos, ex-presidente do Banco da Inglaterra e ex-diretor do Goldman Sachs, aposta em uma abordagem econômica pragmática. Em sua primeira semana no cargo, já revogou o imposto de carbono para consumidores, descartou um aumento no imposto sobre ganhos de capital e ordenou uma revisão do contrato do Canadá para jatos de combate dos EUA.
O terceiro candidato de destaque, Jagmeet Singh, do Novo Partido Democrático (NDP, na sigla em inglês), viu seu partido cair nas pesquisas, de cerca de 18% para 10%, perdendo eleitores para os Liberais. Seu partido, historicamente ligado a sindicatos, foi um aliado crucial de Trudeau, apoiando orçamentos e outras medidas essenciais.
Os ataques de Trump também podem desestabilizar dinâmicas políticas internas. Em Quebec, a segunda província mais populosa do Canadá, o apoio ao separatismo estava crescendo, mas desde a reeleição de Trump, o partido separatista Bloc Québécois perdeu força.
Por outro lado, a primeira-ministra de Alberta, Danielle Smith, apresentou uma lista de exigências para fortalecer o setor de petróleo da província e alertou que, se elas não forem atendidas, o país enfrentará “uma crise de unidade nacional sem precedentes”.
Tanto Carney quanto Poilievre afirmam ser os mais capacitados para negociar com Trump e defendem a diversificação das relações comerciais do Canadá. No entanto, nenhum dos partidos divulgou um plano econômico completo até agora. Carney, por sua vez, já deixou claro que não aceitará as ameaças de Trump, afirmando que a retórica sobre transformar o Canadá no “51º estado americano” “terá que cessar antes de qualquer conversa sobre nossa parceria” com os EUA.