Shona Kirsty Yves, que nasceu em um voo da Costa do Marfim para a Inglaterra há 28 anos, hoje se dedica a pesquisar histórias de nascimentos no ar, como o seu. Ela é uma das quase 50 pessoas no mundo conhecidas como skyborns Debbie Owen estava grávida de sete meses quando decidiu ir da Costa do Marfim para Londres. Seria um voo de sete horas sem escalas e ela estava acompanhada pela filha mais velha, Claire, de quatro anos. Logo após a decolagem, vieram as contrações. Embora o nascimento de sua segunda filha estivesse previsto para dali a semanas, ela soube que o bebê não esperaria o pouso na Inglaterra.
A tripulação cuidou de Claire, enquanto um passageiro, o médico holandês Wym Bakker, assumiu o parto. A bebê recebeu o nome Shona Kirsty Yves, ou SKY (céu, em inglês). “O piloto ligou para meu pai pessoalmente para dizer: ‘aqui é o piloto da British Airways, e sua esposa está entrando em trabalho de parto'”, conta Shona, agora com 28 anos.
Ela é uma das quase 50 pessoas no mundo conhecidas como skyborns — partos improvisados no meio de um voo. Quando recebeu a tarefa de criar um projeto de jornalismo digital como estudante, Shona criou um site e uma comunidade para skyborns e pesquisou a história de nascimentos como o seu e descobriu várias.
Ela ficou particularmente encantada, no entanto, ao descobrir sobre o primeiro bebê: ela a encontrou em um recorte de um jornal da Flórida que remonta a 1929. “O pai era um entusiasta de aviões e um médico cuja esposa estava grávida, então, quando ela sentiu que estava prestes a dar à luz, eles entraram no avião dele e continuaram circulando a 2.000 pés até que ela desse à luz”, diz. “Eles a chamaram de Airleen.”
Shona também encontrou uma história que envolvia o nascimento de gêmeos — um dos quais nasceu durante o voo, o outro após o pouso. E, infelizmente, houve pelo menos três casos em que bebês nasceram em banheiros de aviões e foram abandonados por suas mães. Apesar dos riscos potenciais do parto durante o voo, de acordo com a pesquisa, não houve fatalidades ou natimortos a bordo.
1 caso a cada 26 milhões de passageiros
Nascimentos como o de Shona acontece um em cada 26 milhões de passageiros, de acordo com a empresa de suporte médico de aviação MedAire. “O parto durante o voo é muito, muito raro, e são de bebês prematuros”, diz Paulo Alves, diretor médico global da empresa.
“Não é o melhor lugar para você ter seu filho, por muitos motivos. Por um lado, o ar é mais rarefeito, então é mais difícil para o bebê respirar. É como dar à luz uma criança prematura na Cidade do México, em termos de altitude.” Além disso, não há equipamentos de alta tecnologia para ajudar se houver sofrimento durante o parto ou se for necessária uma cesárea de emergência.
Os procedimentos para partos a bordo não são formalizados: comumente, como no caso de Debbie Owen, o passageiro pode ser transferido para um assento mais espaçoso e confortável na classe executiva ou primeira classe, ou para uma área limpa na cozinha.
Laura Einstetler, uma piloto de uma grande companhia aérea dos EUA, conta que pousos de emergência são improváveis. “Levaria no mínimo 45 minutos para levar o passageiro de, digamos, 39.000 pés até um hospital”, diz ela. “Essa opção é inconveniente para os outros passageiros, cara para a companhia aérea e perturbadora para o cronograma da aeronave.” Em vez disso, a tripulação de cabine atuará como parteira enquanto o avião segue para seu destino original.
As regulamentações da aviação sobre passageiras grávidas são confusas. Não há uma regra para todo o setor: algumas companhias aéreas se recusam a transportar mulheres após 27 semanas de gravidez, enquanto outras as aceitam até 40 semanas, com as devidas autorizações médicas.
Como fica a cidadania de bebês nascidos no ar?
Quanto à cidadania de uma criança nascida em voos, Alves, da MedAire, diz que isso também pode variar. “Não há uma regra universal, mas tenha em mente que uma aeronave é considerada solo daquele país”, ele diz, sob a Convenção de 1961 sobre a Redução da Apatridia. É um detalhe técnico, ele ressalta, já que na maioria dos casos, as crianças recebem a cidadania de seus pais por meio da convenção de jus sanguinis, ou direito de sangue.
Esta é a política mais frequentemente seguida, embora alguns países adiram ao conceito alternativo de jus soli, ou direito de solo, que confere cidadania a uma criança de acordo com o local em que ela nasceu. A única vez em que as regras da Convenção de 1961 entram em jogo é na rara ocasião em que a criança seria apátrida; nesse caso, o país de origem da companhia aérea determinará o passaporte.
De acordo com o Departamento de Estado dos EUA, uma criança nascida em águas internacionais deve listar o local de nascimento como “no mar”; se uma criança nascer em voo em uma região que nenhum país reivindica, ela seria oficialmente classificada como nascida “no ar”.
Shona Owen tem um passaporte do Reino Unido. Originalmente, foi anotado em uma página especial para observações oficiais da seguinte forma: “Titular nascido em um avião 10 milhas ao sul de Mayfield, Sussex”. Quando o formato do passaporte britânico mudou para seguir as diretrizes da UE, esta página foi eliminada, e ela foi forçada a listar um local de nascimento em um formato diferente: “nascido no mar”.
Um parto bem-sucedido durante o voo é, muitas vezes, aproveitado como estratégia de relações públicas pelas empresas. A Virgin, por exemplo, concedeu voos gratuitos a um bebê até os 21 anos, enquanto a British Airways presenteou Shona com um par de passagens para qualquer destino em seu aniversário de 18 anos (ela escolheu voar para ver sua avó na Austrália). Voos gratuitos para o resto da vida, no entanto, são mais uma ilusão do que um fato sobre aviação. Shona, por sua vez, faz questão de contar sua história no check-in, pois ela diz que frequentemente recebe um upgrade gratuito como resultado.
Ela afirma que não sofre complicações por sua chegada inesperada e antecipada. “Tenho 1,85 m”, então isso não prejudicou meu crescimento em nada”, diz ela. No entanto, provou ser importante em relação à sua carreira. Ela escolheu trabalhar com viagens e atualmente atua no escritório de uma empresa de safáris.