Em agosto de 2024, o Mausoléu de Lênin na Praça Vermelha de Moscou comemora seu 100º aniversário. Desde a sua inauguração, o mausoléu serviu de local para numerosos desfiles cerimoniais e militares Mausoléu de Lenin na Praça Vermelha de Moscou comemora 100 anos.
Getty Images via BBC
O Mausoléu de Lênin na Praça Vermelha de Moscou, na Rússia, completou seu 100º aniversário em 1º de agosto de 2024.
Desde a inauguração, o local testemunhou numerosos desfiles cerimoniais e militares.
Ao longo dos anos, o corpo embalsamado de Lênin foi retirado de lá e devolvido para lá algumas vezes — e, durante um período, os restos mortais de Joseph Stalin também foram colocados no mesmo lugar, mas acabaram posteriormente removidos.
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Na década de 1970, foi instalado um vidro à prova de balas sobre o sarcófago de Lênin para protegê-lo de tentativas de vandalismo.
E, durante a década de 1990, houve diversos pedidos para que o corpo do líder soviético fosse finalmente enterrado.
Confira a seguir cinco curiosidades que você provavelmente não sabia sobre o Mausoléu de Lênin.
1. A origem da ideia
Historiadores concordam que a proposta de preservar o corpo de Lênin foi sugerida pela primeira vez a Joseph Stalin no verão de 1923.
À época, um líder da Cheka soviética — a antecessora das agências de segurança KGB e FSB — morreu durante uma missão em Kharkiv, na atual Ucrânia, e um jovem cientista chamado Vladimir Vorobyov o embalsamou.
Os comunistas que viram o corpo em Moscou ficaram impressionados com o estado de preservação.
Em novembro do mesmo ano, Stalin convocou uma reunião de líderes do partido para discutir a morte iminente de Lênin — ele ainda estava vivo, mas sofria com uma doença terminal.
Stalin argumentou que o corpo de Lênin deveria ser embalsamado e preservado.
Os representantes da oposição, que seria posteriormente extinta na década de 1930, opuseram-se à ideia.
Leon Trotsky afirmou que relíquias não tinham lugar no marxismo, enquanto Nikolai Bukharin insistiu que mumificar o líder da revolução seria um insulto à memória dele.
A esposa de Lênin, Nadezhda Krupskaya, também pediu que o corpo dele não fosse transformado em objeto de veneração.
No entanto, Stalin, que estava prestes a ter poder absoluto, insistiu na ideia. Ele citou cartas de coletivos de trabalhadores, embora seja agora impossível determinar se essas iniciativas foram genuínas ou eram armadas.
A ideia principal expressa nessas cartas era que Lênin deveria estar sempre com eles.
2. O responsável pela construção
A primeira versão do mausoléu de Lênin, com apenas três metros de altura, foi erguida em menos de três dias para marcar o funeral do líder.
O arquiteto foi Alexei Shchusev, que também projetou as versões subsequentes do prédio.
Lênin morreu no dia 21 de janeiro de 1924 — e as cerimônias de despedida duraram até o final de março daquele ano. Acredita-se que milhões de pessoas visitaram aquele primeiro mausoléu.
No verão de 1924, a ideia de embalsamar Lenin e exibir o corpo dele publicamente já estava em andamento.
Shchusev começou a projetar um novo edifício, enquanto os cientistas Alexei Vorobyov e Boris Zbarsky trabalhavam no embalsamamento.
Em 1º de agosto de 1924, o mausoléu foi aberto ao público. A estrutura era de madeira, mas com tamanho e formato similar à versão atual.
O prédio de granito só foi concluído no outono de 1930.
A forma semelhante a de um panteão estava mais próxima da visão de Stalin, que queria enfatizar a singularidade e a grandeza da União Soviética.
As pessoas formavam longas filas para passar solenemente pelo corpo do líder do proletariado.
3. Mausoléu compartilhado
Em 1953, após a morte de Stalin, foi decidido que o corpo dele também seria enterrado no mesmo mausoléu.
A ideia, no entanto, enfrentou problemas desde o início: a pele de Stalin, especialmente na região do rosto, estava em péssimas condições, o que complicou o processo de embalsamamento.
Uma nova inscrição com os dizeres “Lênin Stalin” foi colocada em cima da antiga.
Porém, a tinta foi lavada pela chuva e revelou o nome anterior, apenas “Lênin”, escrito embaixo.
Após um período de repressão da liderança soviética — que buscava inibir o culto à personalidade de Stalin —, o corpo dele foi removido do mausoléu em 1961 e acabou enterrado perto do Muro do Kremlin.
4. Bastião ideológico com episódios de vandalismo
Entre a Segunda Guerra Mundial e o colapso da União Soviética, o mausoléu foi um local de peregrinação, visitado tanto por dignitários estrangeiros quanto por crianças soviéticas.
Em maio de 1945, durante a Parada da Vitória, as bandeiras nazistas capturadas pelo exército soviético foram jogadas no chão em frente ao Mausoléu para marcar o êxito da URSS.
O primeiro cosmonauta do mundo, Yuri Gagarin, foi recebido pelo então líder soviético Nikita Khruschev num pódio instalado no mausoléu.
Da década de 1950 até o final dos anos 1970, o corpo de Lênin foi alvo de mais de uma dúzia de ataques com pedras, martelo, marreta e até mesmo coquetéis molotov.
Normalmente, os culpados eram capturados e encaminhados para tratamento psiquiátrico compulsório.
Em 1973, um artefato explosivo matou vários visitantes. A redoma do sarcófago de Lênin foi então reforçada com um vidro à prova de balas.
5. Os restos mortais de Lênin
Após o colapso da União Soviética, o presidente Boris Yeltsin, que desprezava as ideias comunistas, optou por continuar a proferir seus discursos na Praça Vermelha.
No entanto, eles não eram mais feitos a partir do mausoléu, mas, sim, numa plataforma especialmente instalada nas proximidades.
No início da década de 1990, o laboratório responsável pela manutenção do corpo de Lênin perdeu o financiamento que custeava os serviços.
Desde então, vários documentários sobre o mausoléu e a preservação do corpo de Lênin foram ao ar em canais de televisão russos.
Esses materiais afirmavam que restava apenas 23% do corpo “original” de Lênin — o resto havia sido substituído por outros materiais.
Até hoje, o Mausoléu de Lênin continua a ser uma atração turística popular na Rússia.
No Google Maps e no site TripAdvisor, o local tem uma avaliação média que fica entre quatro e cinco estrelas.
As críticas deixadas por visitantes variam de “meu filho ficou assustado com o rosto amarelo [de Lênin]” até “vale a pena visitar este lugar para quem já ouviu falar da era soviética, seja em primeira mão ou por meio de avós ou pais”.
Mausoléus com corpos embalsamados de líderes seguem em voga nos países comunistas do Leste e do Sudeste Asiático.
Entre eles, estão os corpos dos líderes comunistas da China, Mao Zedong, e do Vietnã, Ho Chi Minh.
Na Coreia do Norte, os corpos dos antigos líderes do país, Kim Il Sung e Kim Jong Il, também são mantidos embalsamados num mausoléu.